Artigos
Dica de Leitura: A ESPANHOLA INGLESA
Bibliotecária do Colégio indica essa obra incrível de Miguel de Cervantes
02Jun
2023
“Este que vedes aqui, de rosto aquilino, de cabelo castanho, testa lisa e desembaraçada, de olhos alegres e nariz curvo [...], chama-se comumente Miguel de Cervantes Saavedra. Foi soldado muitos anos e escravo cinco e meio, quando aprendeu a ter paciência nas adversidades. Na batalha naval de Lepanto, perdeu a mão esquerda com um tiro de arcabuz, ferida que, mesmo que pareça feia, ele considera bela, por tê-la conseguido na mais memorável e alta ocasião que os séculos passados viram, nem esperam ver os futuros.” (Trecho do prólogo escrito por Cervantes para suas Novelas Exemplares)
A vida de Cervantes é, em vários aspectos, uma incógnita. Muito do que se afirma sobre ele provém de conjecturas.
O pequeno Miguel foi batizado em 9 de outubro de 1547 na igreja de Santa Maria la Mayor, em Alcalá de Henares, Espanha, o que leva a supor que o seu nascimento ocorreu poucos dias antes. Em 1570 Cervantes, aos 23 anos, alistou-se no exército italiano. No ano seguinte, em 1571, participou da Batalha de Lepanto, na qual foi atingido por um disparo que feriu a sua mão esquerda, deixando-a mutilada “para maior glória da direita”, nas palavras do próprio Cervantes. Participou, ainda, de três outras batalhas - uma em cada ano de alistamento -, recebendo dispensa para voltar à Espanha em 1575. No mesmo ano, retornando para sua terra natal, o navio onde ele viajava foi capturado por piratas turcos e ele acabou sendo levado como prisioneiro para a Argélia, onde viveu por 5 anos e, após algumas tentativas frustradas de fuga, chegou a ser condenado à morte. Sua execução não chegou a ser realizada - para o bem da literatura universal - porque ele caiu nas graças do vice-rei da Argélia, que o comprou por 500 coroas. Ufa!!
Já nessa época Cervantes começa a escrever e comercializar algumas obras literárias. Suas “Novelas Exemplares”, no entanto, foram lançadas em 1613, apenas 3 anos antes da sua morte. Compostas por 12 histórias escritas em diferentes épocas, são definidas pelo autor no prólogo do livro da seguinte forma:
“Chamei-as de Exemplares, e, se olhares bem, verás que não há nenhuma de que não se possa tirar algum exemplo proveitoso; e, se não fosse espichar demais este assunto, talvez te mostrasse o saboroso e honesto fruto que se poderia colher, tanto de todas juntas como de cada uma em particular.”
Aqui falarei um pouco mais sobre a novela “A Espanhola Inglesa”, com seu estilo ricamente barroco e uma narrativa, de fato, exemplar.
A personagem central do enredo é a espanhola Isabela que, apesar de possuir uma beleza fascinante, tem em mente que o seu real valor deve ser reconhecido pelas virtudes que ela cultiva.
“[...] sua honestidade se igualava em formosura.”
Ricaredo é filho de Clotaldo, patrão e raptor de Isabela. O jovem, após passar um longo período enfermiço e sob cuidados caridosos de Isabela, apaixona-se pela jovem. Porém, para receber a liberação da rainha inglesa para o casamento, Ricaredo foi desafiado a provar que era digno de receber Isabela como esposa, assumindo, por ordem da rainha, o posto de comandante de um navio.
Durante esse período, ele se mostrou sempre valente e justo em suas batalhas, postura que lhe garantirá ajuda em um momento de apuro mais tarde, quando será reconhecido por uma das pessoas que, podendo ter aniquilado, preferiu tratar com piedade. Como afirma o próprio Ricaredo:
“Para mim, a crueldade não combina com a bravura.”
Muitas das experiências narradas em A Espanhola Inglesa são frutos das adversidades vividas pelo próprio Cervantes, atributos que tornam a novela uma aventura riquíssima, tanto do ponto de vista da narrativa quanto dos ensinamentos. Ao final, Isabela e Ricaredo se mostram realmente merecedores do final feliz.
Em 23 de abril de 1616, morre em Madrid, aos 68 anos de idade, Miguel de Cervantes Saavedra. Acredita-se que, nesse mesmo dia, também morreram os grandes escritores William Shakespeare e Inca Garcilaso de la Vega.
Existem algumas discordâncias sobre a funesta coincidência, tanto sobre a data da morte do espanhol quanto do “Bardo do Avon”. No entanto, há também historiadores que discordam das discordâncias e, não havendo evidências suficientes para refutar o dia 23 de abril de 1616, ficamos com essa data mesmo por razões de: porque sim!
Além disso, em 1995, a Unesco declarou o dia 23 de abril como o Dia Mundial do Livro, em homenagem aos três autores.
Seja como for, Cervantes é sempre uma ótima dica literária!
Elidária Rocha
Bibliotecária do Colégio do Bosque Mananciais
Formada em Biblioteconomia e Gestão pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Para saber mais sobre o acervo da nossa biblioteca converse com a Eli pelo biblioteca@bosquemananciais.org.br