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Deve se educar a ambos os sexos de forma separada

Entrevista com Anne Moir - Neurologista

10
Jul
2017

Anne Moir (Leeds, Inglaterra, 1950) é doutora em Genética pela Universidade de Oxford.

Produtora e diretora de documentários sobre este assunto para a BBC, nos quais ganhou vários prêmios, e educadora de adultos no Human Givens College, é autora do livro Brain sex: The real difference between men and wome., Nesse livro expõe os benefícios de educar meninos e meninas separadamente em função das diferenças neurológicas entre ambos os sexos.

ENTREVISTA: ANNE MOIR Neurologista

A neurologista inglesa Anne Moir estica uma mão e mostra seu dedo indicador e anular. Sorridente enfatiza que tem o mesmo tamanho, algo que, conforme aponta se deve à testosterona. Nos homens é comum que o dedo anular seja superior ao indicador, já que tem mais testosterona, enquanto as mulheres apresentam um tamanho muito similar ou, inclusive, o índice ultrapassa ao anular.

Moir é apaixonada pelo estudo do cérebro e das diferenças neurológicas entre homens e mulheres. A partir delas, ela tem configurado sua tese de que só educando separadamente meninos e meninas é possível explorar ao máximo as faculdades de cada um. Dias atrás detalhou suas teses no Palácio Euskaduna de Bilbao durante uma conferência organizada pela Federação de Associações de Pais de Euskadi.

Pergunta. Qual é a principal diferença entre homens e mulheres?

Resposta. Há enormes diferenças na configuração neuroquímica entre os sexos. A principal é aquilo que nos motiva e capta nossa atenção. Os garotos adoram assumir riscos, como saltar de paraquedas. Embora sempre haja exceções, uma mulher se estressará mais com aquilo relacionado com o risco. O cérebro é muito plástico e, se não é usado, se perde. As mulheres tendem a assumir menos riscos na medida em que vão crescendo. Por isso, devem aprender a assumir riscos desde crianças. Os garotos não precisam.

P. Defende a ideia de educar separadamente meninos e meninas nos colégios?

R. Se você deseja reduzir as diferenças entre garotos e garotas, devem ser educados de forma separada e diferente. Do contrário, discriminaríamos negativamente os homens. E acontece que, se não se aprende, a socialização é irrelevante. Uma pessoa aprende a socializar-se. Não é suficiente estar no meio dos outros. Nas escolas em que se coeduca não se ensina, e pode ser contraproducente.

P. Em que sentido?

R. Os garotos desenvolvem a inteligência emocional bem mais tarde que as mulheres e isso pode levar a que elas ignorem os garotos da sua mesma idade e pensem que são imaturos. Se quisermos ajudar a socializar temos que utilizar o que sabemos sobre o cérebro com todos. A socialização não é algo que acontece; treina-se. A evidência sugere que agora mesmo há uma enorme distração sexual entre ambos.

P. Homens e mulheres amadurecem em diferente idade?

R. Está se forçando homens e mulheres a que entrem em outro mundo antes que seus cérebros estejam maduros, antes que se desenvolvam definitivamente. O cérebro de um homem amadurece entre 20 e 25 anos; os cérebros das mulheres amadurecem entre 16 e 17 anos. Acredito que esse desenvolvimento lento determina que colocar os adolescentes nas mesmas salas de aula repercutirá negativamente no seu desenvolvimento e empobrecerá a comunicação entre os sexos. Gostaria que os colégios se organizassem de forma científica e não de forma política...

Olho à ciência e penso: como ela diz que educaremos melhor os meninos?

P. Suas ideias se chocam com os postulados feministas?

R. Se você ensinar um menino que seu cérebro está organizado de determinada maneira ele conseguirá tirar o melhor de si mesmo. Se você ignorar as diferenças, estas serão acentuadas. Veja o seguinte exemplo: Os garotos desenvolvem a atividade verbal bem mais tarde que as garotas. A educação atual incide na comunicação verbal, e os garotos podem se sentir deslocados pelo fato de não poder acompanhar a turma. As garotas têm menor habilidade para pensar em três dimensões. Se ignorar este fato e não são educadas em outra velocidade neste aspecto, elas estarão menos aptas para se dedicar nos trabalhos técnicos, e se acentuarão estereótipos como, por exemplo, que as mulheres estacionam pior. O feminismo ignora as diferenças, com o que estas aumentam.

El País, 22/04/2011

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