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Competência do mês de março: RESPONSABILIDADE

04
Mar
2022

 

A EDUCAÇÃO DA RESPONSABILIDADE

 

"Assume as consequências de seus atos intencionados, resultado das decisões que tome ou aceite, e também de seus atos não intencionais, de tal modo que os demais fiquem beneficiados o mais possível ou, pelo menos, não prejudicados; preocupando-se, ao mesmo tempo, de que as outras pessoas em quem pode influir façam o mesmo."

 

Os jovens falam muito de liberdade e muito pouco de responsabilidade. Antes de concentrar-nos na educação desta virtude talvez conviria considerar por que. Ser responsável supõe assumir as consequências dos próprios atos e a princípio, parece que os jovens, a quem chamamos irresponsáveis, estão dispostos a fazê-lo. Assumem as conseqüências de seus atos no sentido de aguentar as críticas de seus pais, de abandonar a comodidade de uma vida confortável, etc.

 

Entretanto, responsabilidade não significa apenas responder ante si próprio. "Responsabilidade significa responder, dar resposta à chamada de outro. Aquele que pede uma resposta pode ser a consciência, ou melhor, o tu de um semelhante, o nós da sociedade e, em último termo, Deus. Mas, para poder responder, é preciso ter aprendido a ouvir e a escutar. As próprias palavras ouvir e obedecer (em latim audire e obordire) se relacionam etimologicamente". E é isto o que incomoda ao adolescente. Ser responsável significa ter que prestar contas; não apenas aguentar as conseqüências da própria atuação.

 

Hoje em dia, a moda leva os jovens a querer interpretar suas vidas fora de todo compromisso, a viver para ter bons momentos. E, enquanto uma pessoa começa a considerar-se a si mesmo como seu próprio rei deixa de ser responsável. Ser responsável significa obedecer: obedecer à própria consciência, obedecer às autoridades, obedecer a Deus, sabendo que essa obediência não se refere a um ato passivo, de escravo, e sim a um ato operativo de compromisso, de dever.

 

Os motivos para ser responsável são diferentes segundo a situação em que surja a necessidade de responder. Entretanto, podemos considerar alguns exemplos para ver estas diferenças.

 

Qual será o motivo principal para que uma criança de sete anos estude responsavelmente no colégio? Pode haver muitos motivos para que estude bem: porque desfruta com a matéria; porque lhe interessa o trabalho em questão, porque o professor indica com clareza que tarefas têm que realizar. Mas, repito, estes são motivos de um trabalho bem feito; não necessariamente de um trabalho responsável. Para que seja um trabalho responsável, o aluno tem que ser consciente de sua obrigação ou dever de responder ante alguém. 

 

Logicamente, o professor exigirá no fazor, as crianças pequenas, com muitas coisas e,  mediante esta exigência, os alunos aprenderão a responsabilizar-se por suas tarefas, respondendo por obrigação ante seu professor. Se estes mesmos alunos começassem a trabalhar em equipe com alguns companheiros, o motivo de serem responsáveis mudaria.  Sentiram-se comprometidos no trabalho em equipe e reconheceram que os demais esperam algo deles. Por isso, responderam por dever ante seus companheiros.

 

Se o filho entende que seus pais são, em parte, responsáveis por seus estudos, pode ser que se esforce mais por dever e por amor a seus pais. Se a seguir, o filho reconhece que o trabalho é um caminho de santificação pessoal, pode esforçar-se por amor a Deus e por dever. Em algumas ocasiões, o filho receberá uma exigência direta externa para que cumpra, mas sua consciência é a que a seguir tem que manifestar sua opinião em relação a seus atos e seus compromissos.

 

Os filhos têm muitos motivos para serem responsáveis, mas, pensando nos pais, haveria que destacar que sua missão principal, para conseguir o desenvolvimento desta virtude em seus filhos, é a de exercer adequadamente sua autoridade. "A autoridade dos pais é uma influência positiva que sustenta e acrescenta a autonomia e a responsabilidade de cada filho; é um serviço aos filhos em seu processo educativo, um serviço que implica o poder de decidir e de sancionar, é uma ajuda que consiste em dirigir a participação dos filhos na vida familiar e em orientar sua crescente autonomia, responsabilizando-os; é um componente essencial do amor aos filhos, que se manifesta de diversos modos em diferentes circunstâncias na relação pais-filhos."

 

Vamos concretizar alguns aspectos da atuação dos pais com referência a seus filhos, tendo em conta os motivos que estes podem ter para responder adequadamente.

 

A responsabilidade dos atos intencionados

 

O desenvolvimento da virtude da responsabilidade supõe não apenas que os filhos aprendam a responsabilizar-se pelas decisões de outros, mas também que aprendam a tomar decisões pessoais. Entretanto, é lógico que as crianças pequenas começam responsabilizando-se por cumprir adequadamente com muitas indicações que recebem. Por isso, na descrição inicial vem recolhidas as palavras "resultado das decisões que tome ou aceite". A criança pequena pode cumprir com o que lhe mandem seus pais, por medo ao castigo, porque seus pais lhe exigem com carinho, por amor a eles, etc.

 

É evidente que existem motivações elevadas e outras de pouca qualidade. Entretanto, uma coisa é cumprir e outra coisa é cumprir bem, e aqui tem seu significado as palavras de tal modo que os demais fiquem beneficiados o mais possível". Isto é, se o filho cumpre alguma ordem, ou algum encargo, unicamente tentando terminar o assunto, é provável que não cumpram bem.

 

A cada exigência a criança necessita uma motivação, uma relação com uma pessoa, para que seja realmente responsável. Assim, por exemplo, pode responder ante seu pai. Mas realmente cumpriu de acordo com a intenção de seu pai -o que ele queria- ou unicamente cumpriu com o mínimo necessário para que seu comportamento se adapte literalmente ao indicado? Por exemplo, uma mãe diz a sua filha: "guarde sua roupa no armário, por favor". A filha que atende literalmente ao indicado guarda a sua roupa no armário de qualquer maneira. A filha responsável busca a intenção final de sua mãe e guarda as coisas de acordo com as normas estabelecidas. Também pode responder ante sua própria consciência, ante os demais, etc., como a seguir veremos.

 

Neste sentido, teria que esclarecer aos filhos a diferença entre ter responsabilidades e ser responsável. A pessoa responsável se centra na intenção e não está limitada pelas regras que expressam um mínimo. Outra pessoa que tenha responsabilidades pode cumprir por obrigação, mas sem responsabilidade real, sem buscar o benefício para os demais. Não é a aceitação ativa de uma decisão ou de uma indicação alheia, mas um cumprimento forçado.

 

Existem dois desvios da responsabilidade, todavia mais importantes, que, de fato, nos mostram imediatamente se uma pessoa tem esta virtude desenvolvida ou não. Refiro-me à tendência habitual de recorrer a desculpas para justificar o não cumprimento de alguma indicação, e a tendência de não comprometer-se em nenhum assunto até que acabe bem. A seguir, se adere a isso quando não existe nenhum perigo de fracasso, e quando o trabalho principal já foi realizado.

 

A primeira característica é mais comum nas crianças pequenas. Trata-se de explicar-lhes que é mais importante suportar as consequências de suas faltas, que tentar enganar os demais e enganar-se a si próprio. A pessoa necessita da fortaleza para desenvolver a responsabilidade, porque se aceita responsavelmente decisões e a seguir não tem capacidade para realizar o decidido, ainda que por ser responsável aceite a situação e busque uma solução mais ou menos satisfatória, para que pelo menos ninguém fique prejudicado, de fato necessita da fortaleza para chegar a cumprir com seu dever, e isto é a finalidade da responsabilidade.

 

Talvez consiga esclarecer o que significa "que ninguém fique prejudicado", com um exemplo. Um filho adolescente, juntamente com uns companheiros, tem que fazer um trabalho e o dividem em partes, responsabilizando-se cada um por uma parte. Este filho se distrai, e percebe que não vai ter tempo para cumprir com sua parte. Ainda que a principio não tenha atuado responsavelmente, distribuindo seu tempo de acordo com suas tarefas, procurará ao menos não prejudicar seus companheiros, pedindo ajuda a outras pessoas para cumprir com o que lhe corresponde.

 

Até aqui, nos referimos à responsabilidade como consequência de haver aceito uma decisão alheia, e nos centramos nos menores, dizendo que principalmente mais que tomá-las, vão ter que aceitar decisões. Entretanto, em todo o trajeto da vida, teremos que seguir aceitando decisões alheias, e, às vezes, os adolescentes acreditam que ser livre é desvincular-se dessa necessidade. Pensam que só se trata de tomar decisões e não de aceitá-las. Mas somos seres limitados, que vivemos em uma sociedade e como dissemos em outra ocasião, se trata de responder à chamada à finalidade pela qual fomos criados -seguir nossa vocação-. Isto é, responsabilizar-se pelas nossas próprias vidas. Não é uma escolha que fazemos, mas um convite que aceitamos. Do mesmo modo, um homem não tem mais remédio que trabalhar, mas pode aceitar responsavelmente este dever ou cumprir com isso irresponsavelmente. Os filhos adolescentes deverão reconhecer a necessidade de aceitarem decisões alheias e de responsabilizar-se pelo aceite.

 

De fato, a distinção entre decisão tomada e decisão aceita é falsa, porque há que tomar a determinação de aceitar uma decisão para que se possa realizar o indicado responsavelmente. Mas devemos considerar as consequências de haver aceito uma decisão alheia.

 

Se um filho aceita responsavelmente uma decisão de seu pai, quer dizer que não jogará a culpa em seu pai se o assunto não sair bem. Se um filho aceitar responsavelmente qualquer indicação, não se queixou de sua dificuldade, nem da maneira de havê-la recebido. Ele assumiu as consequências pessoalmente e responde por elas.

 

A responsabilidade e a tomada de decisões

 

Dissemos antes que não apenas se trata de aceitar decisões, mas de tomar decisões dentro da zona de autonomia própria, para melhorar a si próprio e para ajudar os demais a melhorarem. É lógico que os filhos começam a tomar decisões pessoais em um âmbito onde os pais estão a seu lado para poder orientá-los, ou seja, no lar. E quando falamos de decisões no âmbito do lar estamos nos referindo à participação. "A participação pode ser entendida como uma disposição e como uma oportunidade de contribuir pessoalmente a uma tarefa comum, seja na ordem da informação ou na da decisão ou na da ação procurando fazê-lo com sentido de responsabilidade".

 

Este sentido de responsabilidade supõe uma decisão prévia, porque em muitas das coisas que fazemos ou decidimos não existe uma decisão formal anterior. Por exemplo, os pais podem pedir a seus filhos sugestões para saber como resolver alguma situação problemática da família. Um filho contesta com pouca seriedade, levando o assunto em gozação. Outro tenta contribuir com alguma solução sensata, não porque tenha decidido conscientemente que quer fazê-lo, mas porque houve um propósito anterior, seguramente inconsciente, de que quer ajudar seus irmãos e seus pais. Neste sentido, uma decisão formal pode ser substituída por uma vivência profunda de algo importante.

 

De fato, notamos que algumas crianças têm este sentido de responsabilidade muito desenvolvido por natureza. São crianças sérias, cumpridoras e não por haver decidido conscientemente que querem sê-lo. Por isso, é importante que os pais conheçam as características de seus filhos, em relação à responsabilidade. Se não as conhecem é possível que exijam a um filho já responsável fazer que seja, todavia, mais responsável quando realmente seu problema não é esse, mas é o de superar algumas limitações do tipo: falta de alegria, falta de sociabilidade, falta de iniciativa, por exemplo.

 

É bom que os filhos tomem decisões e se o filho tende a ser responsável já de per si, no cumprimento de seus encargos, etc., necessita tomar decisões pessoais igual a outros filhos que têm mais dificuldades em cumprir o mandado.

 

Vamos considerar como se pode educar os filhos para tomar decisões pessoais responsáveis e para atuar congruentemente com elas. 

 

Normalmente, não é necessário criar situações para que os filhos pequenos decidam, mas fazê-los conscientes das decisões que, de fato, estão tomando continuamente. E isso para que aprendam a assumir as consequências pessoalmente. Se as crianças recebem uma mesada semanal, podem aprender a usá-la razoavelmente, distribuindo-a durante a semana, e sem aborrecer-se quando vêem que algum irmão comprou algo que ele gosta mais. Se se organiza uma festa de aniversário, podem escolher os companheiros que querem convidar, de acordo com seus critérios. Podem decidir que brinquedo querem levar a uma excursão, ou podem decidir que presente querem comprar para sua mãe no Dia das Mães, etc.

 

Em todas estas ocasiões, os pais podem contribuir com uma informação para que decida melhor, para que tenham critérios adequados para decidir. Por exemplo, no último caso -o presente para sua mãe- conviria dizer-lhes que se trata de comprar algo que ela goste e não uma coisa que eles gostem, inclusive sugerindo várias coisas para que tenham idéias. Em todo caso, nesta primeira etapa, se tratará de oferecer diferentes possibilidades para que os filhos decidam entre várias.

 

O processo, neste sentido, consistirá em ensiná-los a aceitar uma única possibilidade positivamente e, ao mesmo tempo, ensiná-los a escolher entre poucas possibilidades. A seguir, virá o momento para decidir dentro de um campo mais amplo, de pensar nas possibilidades por si próprias. Deste modo, podemos conseguir que tomem decisões responsáveis com uma informação adequada e prevendo as consequências. A seguir, haverá que insistir em que agüentem as consequências de suas decisões sem queixar-se nem jogar a culpa em outra pessoa. E, como dissemos anteriormente, reforçar a responsabilidade com a fortaleza, especialmente com perseverança, para que a decisão surta efeito em benefício dos demais e não apenas termine em não prejudicar.

 

Para que as decisões não sejam apenas de interesse pessoal, será bom relacionar seus esforços com o serviço aos demais, desenvolvendo assim também a virtude da generosidade, esclarecendo especialmente o que agrada e o que ofende a Deus, para que apreciem o que é atuar responsavelmente como cristão. Não apenas se trata de evitar o pecado, mas também de afinar sua consciência para atuar de maneira positiva. Os pais sempre podem orientar seus filhos, a fim de que tomem decisões adequadas. E se têm claro a necessidade de provocar estas decisões, aproveitaram muitas ocasiões que surjam espontaneamente. Por outro lado, se notam que eles mesmos estão falhando neste aspecto, pode ser conveniente destacar o assunto com maior atenção e prever ocasiões para que os filhos aprendam a tomar decisões pessoais.

 

Quando já se conseguiu que os filhos tomem uma decisão, os pais terão que cuidar de não assumir a responsabilidade quando o assunto sai mal. Por exemplo, um filho decide deixar suas tarefas para fazer depois que sair com seus amigos. Por alguma razão chegam em casa mais tarde do que o previsto. Substituir o filho na responsabilidade de assumir as consequências seria dizer-lhe que fosse para cama e nós mesmos fazermos a tarefa para ele, ou deixá-lo fazer as tarefas mesmo que tenha passado em muito a hora estabelecida para ir dormir. Em todo caso, se trataria de deixar um despertador para que se levantasse cedo.

 

Já na adolescência, convirá dar algumas indicações claras aos filhos sobre que tipo de decisão podem tomar sem informar a seus pais, que tipo de decisão podem tomar após informá-los, e que tipos de decisão podem tomar unicamente depois de consultar. A princípio, se pode dizer que deveriam consultar em torno de decisões relacionadas com seus estudos (com respeito a aspectos técnicos do estudo e à realização de seu trabalho); também em relação com qualquer decisão que pode influir sobre outros membros de família, chegar habitualmente a uma hora diferente para jantar, por exemplo: e com respeito a qualquer decisão, consequência de alguma situação nova na qual não tem experiência. A partir do ponto de vista dos pais, tem duas obrigações: primeira, indicar aos filhos em que assuntos podem decidir e como. E, em segundo lugar, dar uma informação adequada e exigir-lhes que pensem antes para que decidam responsavelmente.

 

Há um tipo de decisão que apresenta problemas especiais, para conseguir a correspondente responsabilização por parte dos filhos. Refiro-me à decisão tomada em grupo. Em qualquer nível, a decisão em grupo tende a diluir a responsabilidade pessoal. Isto é, cada um não aceita uma responsabilidade cem por cento, mas a aceita em grau menor. Nestas circunstâncias, não costuma haver resultados positivos. De fato, mostra um grau de responsabilização muito elevado a de arcar com as consequências de uma decisão em grupo, como se fosse uma decisão pessoal. E os pais deveriam tê-lo em conta ao apresentar a seus filhos coletivamente algum problema a resolver ou alguma meta a conseguir. Em todo caso, depois da decisão em grupo, se tratará de falar com cada filho que chegue a reconhecer sua responsabilidade intransferível e a importância do assunto em questão.Unicamente pode haver uma responsabilidade em grupo se, previamente, cada membro aprendeu a ser responsável pessoalmente.

 

Os atos não intencionados

 

Como explicamos, não apenas se trata de sermos responsáveis do que decidimos, mas também do que fazemos, intencionalmente ou não. Se um motorista de carro atropela um pedestre, evidentemente, sem querer, nem por isso pode adotar uma postura irresponsável. Tem que prestar conta ante as autoridades correspondentes e tentar colocar os meios para remediar os prejuízos causados (ainda que não tenha responsabilidade moral pelo que ocorreu).

 

Em nível de crianças, se um irmão quebra um brinquedo de outro sem querer, nem por isso pode isentar-se da responsabilidade de arrumá-lo ou substituí-lo ou conseguir que seus pais o substitua, e pedir desculpas.  É evidente que os pais podem explicar isto a seus filhos, porque não é mais do que justiça elementar.

 

Entretanto, pode ocorrer, em outras situações que não seja suficiente a responsabilidade a posteriori. Refiro-me à necessidade de prever as consequências dos próprios atos. Uma criança que joga bola na sala, quebrando algum enfeite não é responsável, simplesmente porque logo pede desculpas. A responsabilidade desenvolvida o levaria a pensar nas consequências deste ato e, portanto, a não fazê-lo. Esta atitude é especialmente importante nos adolescentes, porque continuamente se encontram em situações novas que podem ser prejudiciais. Por um lado, devem aprender a consultar com seus pais ou com outras pessoas nas quais podem confiar antes de realizar algo novo, para conhecer as dificuldades que podem supor e os perigos que pode oferecer. E, por outro lado, deveriam reconhecer que pode ser mais valente, mais responsável dizer que não, não

provar esta nova experiência.

 

Somos responsáveis por todos nossos atos, especialmente quando supõe um ato da vontade, mas também quando são resultados de uma falta de previsão. De todos os modos, é lógico que atuemos de um modo irresponsável em algum momento sem querer e então ser responsável significa tentar retificar, reparar o dano causado e colocar empenho em não

cometer o mesmo erro em outra ocasião.

 

Os pais, se têm claros estes aspectos da responsabilidade, podem explicar aos filhos que é assim. Muitas vezes, buscamos soluções fora do cotidiano para educar os filhos, e não reconhecemos que se trata melhor de ter ideias claras, dar exemplo, esclarecer e explicar as coisas aos filhos e agir com intencionalidade.

 

A preocupação pelos demais

 

Nossa descrição inicial termina "preocupando-se ao mesmo tempo de que as outras pessoas, nas quais podemos influir, façam o mesmo". Em outros termos, ser pai responsável é conseguir que os filhos sejam responsáveis e daí as indicações anteriores em torno da educação da responsabilidade. Entretanto, também se trata de educar os filhos para que eles mesmos ajudem seus companheiros, seus irmãos, e inclusive seus pais a desenvolver a virtude da responsabilidade. Os filhos, com um conceito falso do que é o respeito, acreditam que não deveriam exigir nada de seus companheiros neste sentido, ou simplesmente se queixam ou se aborrecem sem tentar positivamente estimular essa pessoa a reconhecer seu dever.

 

Nossos filhos sempre vão encontrar-se com alguns companheiros que atuam sem responsabilidade. E se não tentam ajudá-los é possível que sejam eles os afetados, porque é mais fácil atuar de acordo com o ânimo do momento, de acordo com qualquer capricho. Neste sentido, pedimos aos filhos uma responsabilidade nas mesmas relações com os demais. E isto ficará refletido na virtude da lealdade que consideramos em outra parte.

 

Em nível humano, todos temos uma responsabilidade para com os demais. Desde logo, há que respeitar os demais, mas este respeito significa despertá-los e exigir-lhes dentro da relação da amizade que existe. Nossos filhos não só deveriam sentir-se responsáveis e fazer-se responsáveis de suas próprias vidas, mas também prestar a atenção adequada aos demais, em nível humano e também em nível sobrenatural, se são cristãos.

 

A pessoa responsável assume as consequências de seus próprios atos, intencionados ou não, e também se responsabiliza do que é, a saber, filho de Deus.


 

AUTO-AVALIAÇÃO

 

A MANEIRA PESSOAL DE VIVER A RESPONSABILIDADE

 

1. Assumo plenamente a responsabilidade de ser educador. Tenho uma vivência profunda da importância de minha função. (A responsabilidade supõe este primeiro tipo de decisão consciente de responder pelo que se é. Não se trata tanto de responsabilizar-se por um conjunto de tarefas).

 

2. Vivo a responsabilidade prestando contas às pessoas que têm autoridade sobre mim. (É necessário responder ante alguém para ser responsável e todas as pessoas têm alguma autoridade acima de nós).

 

3. Me comprometo com os valores e com as pessoas que dependem de mim buscando seu bem. (O compromisso é consequência de uma decisão consciente. É necessário refletir sobre o que é importante para si próprio e a seguir lutando para proteger e defender esses valores).

 

4. Depois de tomar uma decisão ou empreender uma ação, aguente as consequências se o assunto sai mal. (Algumas pessoas tentam passar a responsabilidade a outros. Por exemplo, se um filho fracassa seus estudos principalmente por ter pouca capacidade real para o estudo, alguns pais não o aceitam e passam a responsabilidade do fracasso ao colégio).

 

5. Passo um tempo tentando prever possíveis conseqüências de minhas decisões antes de tomar uma determinação. (Na vida familiar, com frequência os pais reagem frente às situações, em vez de estudar o tema e tomar uma decisão pausada. A responsabilidade requer não apenas assumir as conseqüências dos próprios atos mas também, prever as consequências).

 

6. Assumo conseqüências negativas de minhas ações equivocadas. (Indicadores de que seja assim, serão, por exemplo que o educador saiba pedir desculpas quando haja cometido um erro ou que saiba retificar e não continuar adiante com teimosia em algum assunto, após perceber que se equivocou).

 

7.Habitualmente me comprometo com projetos depois de um estudo sério do assunto, pensando nas conseqüências positivas que pode haver para demais e depender necessariamente das opiniões dos demais. (Algumas pessoas tendem a não comprometer-se a menos que a maioria dos demais já o tenha feito, ou unicamente quando vê que o assunto está saindo bem).

 

8. Apesar de que existem muitos motivos para ser responsável, entendo que o motivo fundamental tem que reconhecimento de que tenho o dever de responder ante outra pessoa ou ante Deus. (Uma pessoa pode atuar de uma maneira que parece responsável por fins econômicos, por medo, por eficácia. Entretanto, não reconhece as exigências autênticas da responsabilidade)

 

9.Quando participo em reuniões em que se tomam decisões, assumo as conseqüências ainda que a decisão tomada não seja a que eu considero melhor. (De fato responder pelas decisões tomadas em grupo é difícil. Requer uma dose suficiente de humildade).

 

10. Me responsabilizo do que radicalmente sou. Isto é filho/a de Deus. (Isto requer, por exemplo, recorrer aos Sacramentos, estudar as verdades da fé, buscar uma direção espiritual, viver a fé nas relações com os demais, rezar e reconhecer a Deus como Pai).

 

A EDUCAÇÃO DA RESPONSABILIDADE

 

1. Reconheço a tendência de cada filho/aluno em relação com a responsabilidade de tal maneira que não pressiono muito à criança, que por si própria, é responsável.(Cada criança nasce de uma maneira diferente e há que recordar que se pode cair em um vício por um excesso  da virtude. Possivelmente, esse menino responsável necessita desenvolver outras virtudes, a flexibilidade, sinceridade ou a compreensão, por exemplo).

 

2. Mando aos filhos/alunos para que tenham a oportunidade de obedecer e viver a responsabilidade. (Uma das maneiras de ser responsável é a de assumir as decisões dos demais. Isto é, obedecer-lhes. Se o educador não manda, não se pode viver a responsabilidade desta maneira).

 

3. Ajudo aos meninos/as a dar-se conta das decisões que estão tomando, de tal forma que possam assumir as consequências das mesmas. (Por exemplo, ajudando a um filho a ver como gastar sua "mesada" semanal, a ver as conseqüências de convidar a alguns amigos e não a outros a uma festa de aniversário, a inscrever-se em uma atividade extra escolar no colégio).

 

4. Ofereço diferentes alternativas aos filhos/alunos para que aprendam Discernir entre as vantagens e inconvenientes de cada uma. (Quando se trata de jovens, eles próprios podem pensar nas alternativas. Mas antes convém usar este sistema para que aprendam a descobrir as possíveis consequências de seus atos).

 

5. Me preocupo em buscar ou facilitar a informação adequada com respeito a algum tema em que o jovem vai tomar uma decisão, de tal maneira que possa tomá-la responsavelmente. (Aqui nos referimos å etapa em que o jovem ainda não está em condições de assumir autonomamente o processo completo. De fato é freqüente encontrar meninos/as de quatorze ou quinze anos que tomam suas decisões, ou pretendem fazê-lo, com uma falta de prudência considerável. Não reconhecem os perigos ou se acham capazes de superar qualquer dificuldade. Necessitam de ajuda para ser realistas).

 

6.Procuro áreas de autonomia em que os jovens possam tomar suas próprias decisões autonomamente e lhes deixo agüentar as consequências de seus erros contanto que não sejam imprudentes. (Quando as coisas saem mal, os educadores têm uma tendência natural a proteger o educando sem deixar-lhe crescer como consequência de seus próprios erros).

 

7. Ajudo aos jovens a dirigir sua atenção para os demais de tal forma que ajudem a seus colegas e amigos a atuar responsavelmente também. Ser responsável é ajudar aos demais a ser responsável. Por exemplo, uma criança poderia animar a outra a assumir as conseqüências de alguma infração das regras que cometeu, a cumprir com sua palavra, a realizar seu trabalho bem ou a obedecer a seus pais)

 

8. Ajudo aos jovens a reconhecer quais coisas e ante quem devem prestar contas. (Progressivamente podem ir reconhecendo as diferentes autoridades ante quem devem prestar contas. Por exemplo, o professor, os pais, uma autoridade civil e evidentemente Deus).

 

9. Ensino aos filhos/alunos a consultar antes de tomar suas decisões e a quem convém recorrer em cada caso. (De fato se trata de ajudar-lhes a descobrir quem são as autoridades em cada questão. Não se trata de recorrer ao professor para resolver uma dúvida médica e tampouco se trata de recorrer ao médico para resolver um tema escolar).

 

10. Ajudo aos jovens a assumir a responsabilidade de suas ações equivocadas cometidas sem intenção. (Muitas coisas acontecem por falta de previsão ou por ingenuidade, mas também há outras em que dificilmente se pode encontrar algum elemento de responsabilidade pessoal. De todas as formas há que assumir o fato e aguentar aquelas coisas de que não nos sentimos responsáveis. Uma doença, por exemplo).


Retirado do livro A Educação das virtudes humanas e a sua avaliação, de David Isaacs.

 

 

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